martes, 30 de julio de 2013

Referências de Linguagem

Jean Rouch



   Uma das coisas que mais nos acompanha para as escolhas discursivas e os enfoques que serão buscados em Zaki y Zene (para que o horizonte da ficção não se restrinja a si mesmo mas que pelo contrário, se desterritorialize em outras formas) está presente nos filmes do cineasta francês Jean Rouch, e principalmente no filme "Moi, un Noir". Para além do título provocador, Rouch mete o dedo em muitas das feridas abertas na tecitura histórico-social, unindo a uma só vez rigor antropológico e agudeza do olhar. Nos seus filmes a questão da colonização dos territórios atravessa também os corpos. Ao meu ver, discute-se acima de tudo subjetividade. Interessa-me aqui a forma como ele abre o campo social desde o íntimo do campo existencial, e vice-versa. Interessa-me como ele se insere na imagem enquanto olhar, não fugindo de ser um francês - que portanto tem suas raízes no campo dos colonizadores - mas pelo contrário, justamente utiliza-se dessa afirmação de distância para devir-margem, não através de seu próprio corpo, mas pelo corpo do outro, nesse caso, dos negros imigrantes, instantaneamente ficcionalizados pela presença da câmera. Com isso, Rouch produz uma violenta quebra de padrões discursivos, ainda mais em se tratando de um assunto como esse, que corre o perigo de se tornar mais uma dessas mutações do proselitismo-social-superficial. Quando o olhar de quem olha se insere na problemática daquilo que vê e ao mesmo tempo afirma a distância inerente que existe entre os termos, aí temos um verdadeiro campo de crise e portanto, de criação. Isso é o que eu acho -  o resto (que é tudo) é tateamento, descoberta & invenção.

Daniel Guerra

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